28/10/2008

"Cançoninho"

Ao espreitar de manhã cedo
Ao fogo de Jesus brando
Vi que Deus me tinha dado
Um coração de brinquedo
E canções pró sapatinho

Para o céu mandei-lhe o medo
De que a corda se partisse
Mas Deus lá voltou e disse
Não ter perigo se eu cantasse
Ao fogo de Jesus brando

Ponho a mão a ver se bate
Estala-se-me a lenha no peito
E sinto quanto mais canto
ao fogo de Jesus brando
Sair-me á voz uma ave...

Velho menino do coro
Ainda á espera do solo
Ao fogo de Jesus brando
Estoiro as veias do pescoço
Como cordas a um violino

Ao fogo de Jesus brando
No meu comboio eléctrico
Da infância para o futuro
Eu a vida ainda apanho
Numa estrela apeadeiro.







Letra e Música de Joaquim Castro Caldas...
a qual tive o prazer de conhecer e ouvir ontem...
na Noite de Poesia do Pinguim...
...foi bom

24/10/2008

Reabri os olhos,
Que anunciaram marés,
E nas paredes escorreu o silêncio...
A chuva e o frio a baterem no vidro...
E no silêncio...
Só o choro,
E o vazio...



18/10/2008

o mundo inteiro...

" Em cada passo... em cada dança, viajar...
Sentir o Mundo inteiro num pequeno e fugaz instante...
Em cada olhar, cruzado, os desejos,
Os anseios... em cada toque a sensação que extravaza da pele ao ritmo alucinante da música que afaga... que envolve.


Viver, sentir, sonhar acordado com os pés no chão... e junto ao peito, o bater do coração que não é meu...
Marca o compasso de toda a música que me rodeia.
Respiração ofegante, inquietude constante.
Corpo entrelaçado que a noção e o infinito jogo de sedução já não deixam saber qual dos corpos é o teu...



Agora ouve-a, deixa que se insinue... desliga tudo em teu redor e Sente... somente.
Que o ritmo marcado encontre os passos certos, que o corpo flutue na quimera da paixão...
Enlaça-me, prende-me ao teu peito...
São os corpos que anseiam a expressão da forma mais pura... do que sentem...
do que a música faz sentir, faz chorar, faz sorrir...

E na ausência, uma dança, uma mazurka... uma noite sossegada... Silêncio profundo no meio do nada...
Que a dança não é só dança.
é de um amor conivente...
É aquela que arrasta ao ritmo da paixão e me faz sonhar o calor possante do corpo que me prende..."



rutemar

(inspirado em texto de autor...)





de silêncio

"Amo devagar todos os que são tristes,
com cinco dedos de cada lado...
Os que enlouquecem e estão sentados,
Fechando os olhos...
E com os livros atrás... A arder eternamente.
Nunca os chamo... mas eles voltam-se, profundamente...
Dentro do fogo.
...Temos um talento?
Doloroso,
Obscuro.
E sem sabermos, sem querermos,
Construímos um lugar de Silêncio.
E de Paixão"."




30/07/2008

Definição de Musa

Definição de Musa. ( por Paola ):


" Las musas se descaminan todo el tiempo.

Separan las piernas con facilidad, penetradas de ilusiones vagas, se pierden entre los sueños, se tatuan el vientre, no usan ropa interior y usan pelucas baratas.

Se pierden en los bares donde las encuentras orgasmeando la psique de algún artista.

Temen amarlas, porque son efímeras, son amantes, impredecibles.

Se roban sus cuentos, sus historias, algunas terminan perdidas entre recetas de cocina, de pie, de piel, o adornando la pared de alguna estancia.

Las musas se desnudan solas, hacen el amor y se van, como los marineros., después se extravían en el océano mental de algún creador de cosas bellas, quedando anunciada su presencia para la posteridad en el escaparate de tu memoria. "




13/07/2008

Acorda doce sonho, acorda...

A vigilia passa pelo nosso leito, das folhas, da terra em lama...
Eu caí ali, adormecendo nos teus braços.
O vento respira através da negra floresta,
A mão do vento move a roda das cortinas.
Amor… a bebida da minha vida…
Os poetas tocam-me o coração,
Acorda...acorda doce sonho!
Há uma mágoa no amor…
O coração não adormece…
Cansado de vaguear…
No comboio do esquecimento,
Nos braços da saudade…
Procuro o meu sentido.
Acalmar a tempestade.
O tempo passa e não me mente…
Acorda doce sonho, acorda…
O corpo dói-me lentamente,
Ouço no coração os passos da solidão,
Dirigem-se a mim…
E com as mãos cheias de nada,
Vou sofrendo devagar esta lição.
Acorda doce sonho, acorda…
Amor e bebida desta vida…
Acorda devagar a despedida…
Esta manhã já não ouço a canção…

Tenho em mim...

Tenho nas memórias púrpuras
A cor das cortinas da sala grande,
No gira discos o vinil das cantigas
Á volta da mesa que escondia amêndoas.

Mantenho os pés esticados nas costas do sofá
No olhar eterno e sorridente das caras do amor
Tenho o sorriso solto, espalhado e louco
Partilhado nas correrias pelo corredor

Era a casa abrigo
E nela havia flores…
Eram as rosas inglesas que abriam o portão
E as sardinheiras em flor…

Tenho a rampa de entrada,
Na garagem, a porta rodava!
Cheirava a cola…
Nós no chão…

Bonecos, formigas e vizinhos…
Como explicar?...
Era esta a casa…
Absoluta!

Tenho no pátio-azálea a mesa redonda,
O Guarda-sol.
Os almoços únicos
e o chá das primas…

A marquise dos bonecos da mamã, esquecidos
E noutros dias, dos pardais vencidos,
Caleidoscópios…
viagens de mil cores…mais mil odores.

Tenho o cesto de basquete
Nas rodinhas a bicicleta…
Os arranhões dos coelhos na chegada a casa…
O vinagre intenso na cura da asa…

Tenho o sabor do sabão na cara
Na primavera eterna daquele quarto…
Os cabelos brancos e longos penteados na noite
Ao espelho antigo de camisa branca…

Tenho o acordar mais doce da minha vida
E a lágrima da saudade como prova amiga,
Tenho a sala minúscula no livro da Cinderela,
Tenho aquele regaço enorme,
O abraço dela…

Tenho as histórias sem fim no colo sentadas,
Televisão amarela a contar piadas,
A renda por cima sempre arranjada
O cheiro do pão... da roupa lavada

Trago na memória as flores,
Que rego hoje no meu jardim,
Recordo eternamente as cores, os sabores…

E tudo aquilo…
Eu Tenho em Mim.


Desceu tão derepente...

"Desceu tão derepente o sol por onde andei...
Já mal o vejo... Essa janela para lá das árvores, o "lugar-refém" de tudo o que senti...
A própria vida confunde as minhas imagens... e quis amar a voz do teu segredo.
Se ainda existe o verão, porquê a nostalgia, a dor feliz que foge e não regressa?
A cada instante parece outra melodia nos olhos de quem quer ver e de quem ama...
E eu sei adormecer e sonhar ainda com a realidade ali na cabeceira.
Quais são as cores da morte?
Uma paisagem acontecendo, em sombra... os objectos esquecendo-se de nós...
E numa só vida começam e acabam tantas vidas... tantos sonhos...
É um mundo só meu, este mesmo, e no qual já só sei que gosto de caminhar pelo sol."

foi assim...

...A pedido de luminosas almas que povoam ou vão povoando os meus caminhos, dei inicio então a este "blog", na tentativa de aqui reunir e partilhar palavras, momentos, loucuras e pensamentos...
Contos em prosa que desenharam os meus dedos, desabafos em rosas que me libertaram pensamentos... palavras caídas em folhas de papel, inspirações sentidas, dançadas e vividas...

São estes os ecos dos meus silêncios.


Um abraço a todos, especialmente áqueles que nem sabem, mas que contribuiram para "isto".
Resta-me partilhar o que tenho...
... em silêncio...