29/03/2009

Eu não gosto

"Eu não gosto do bom gosto,
Eu não gosto do "bom senso"
Eu não gosto dos "bons modos"
Não gosto.

Eu aguento até rigores,
Eu não tenho pena dos arrependidos
Eu hospedo infractores e banidos.
Eu respeito conveniências,
Eu não ligo pra tarados
Eu suporto as aparências
Eu não gosto de maus tratos...

Mas o que eu não gosto é do "bom gosto",
Eu não gosto do "bom senso",
Eu não suporto os "bons modos",
Não gosto.

Eu aguento até as estéticas,
Eu não julgo competências,
Eu não ligo a etiquetas.

Eu aplaudo rebeldias,
Não respeito tiranias,
Compreendo piedades,
Eu não condeno mentiras,
Eu não condeno as falsidades e vaidades,

O que eu não gosto é do "bom gosto"
Eu não gosto do "bom senso"
Eu não gosto dos "bons modos"
Não gosto!

Eu gosto dos que têm fome,
Dos que morrem de vontade,
Dos que secam de desejo,
Dos que ardem!
Eu gosto dos que têm olhos,
Dos que suspiram a saudade,
Dos que viajam em sonho,
Dos que ardem!."



(adaptado de texto de autor)

19/02/2009

Canção de Enganar

dorme, menino dorme...

a lua aquece...

ja nao há canções p'ra te embalar,

e a noite cresceu... não te esperou..

e o dia nasceu e não mudou.

Dorme, menino dorme, antes que acordes,

Sonha toda essa vida a correr bem...

E se á noite vier o desespero,

olha para ti e vê quem tens...

olha para ti e vê quem vem...

Chora bem baixinho o desespero..

Abraça-o só no gesto de o saberes..

Outro alguém nunca te irá dizê-lo,

Poucos vão sentir o "não merecer"...

Quando a lua for lá esconder-se,

Veste esse teu fato de indiferente..

Sai à rua como sai a Gente,

E dorme, meu menino, dorme em cama quente,

Dorme meu menino,dorme em cama quente.


as palavras que nunca te direi...

Não percebo como foi... onde foram poisar as memórias de bálsamo...

Descubro que desconheço onde descansam as estórias, as vivências...

"Amalgama disforme de sentimentos" é a nova forma de estar...

Não te sei dizer como fizemos tanto com tão pouco...

Como rimos e criamos... como nos descobrimos cúmplices um do outro neste mundo tão grande.

Tão desesperado...

Nunca saberei explicar como construimos o castelo... de que é feito...

Só lhe distingo o aroma a baunilha e o suor dos corpos na cama...

Nunca te direi os arrepios dos acordares mais ternurentos, nem os abraços aconchegados no instante que antecede ao fechar das pálpebras...

Nunca nos diremos sobre a comtemplação do primeiro adormecido, nem do decorar do cheiro e do toque do cabelo, do calor das costas e da respiração...

Do abanar em contratempos...

E do sol a emoldurar a lua negra de lágrima branca na parede,

Nunca te direi o arrepio dos teus dedos nas minhas costas e nunca me saberas dizer o sabor da minha pele...

Nunca te saberei explicar onde te criei e com o que te criei...

E nunca saberei se me viste sempre toda...

Não encontro nada.

Não sei onde estão os nossos quadros, os nossos risos e a verdade dos olhares...

Não sei para onde voaram as noites boémias, os abraços e os risos...

Imagino um plátano de outono do qual caiem as folhas docemente para o chão...

e com cada uma cai um pouco deste mundo... um sorriso, uma lágrima, um beijo, outro olhar... espelhado em cada folha...

Nunca te direi que foi tudo verdade...e nao acredito que mo digas um dia...

Nunca te direi que tudo fica, eternamente, em algum lado que desconheço...

Só sei que fica.

E que Existiu.
De tudo o que me é sensível, procuro o que me é mais próximo.
Sentada, neste jardim, sabendo o sol a desaparecer aos poucos na linha que separa do céu toda esta terra..

É o meu corpo de menina crescida, ainda, e abraçado à roupa que a Primavera obriga.
O corpo que aprendo a esquecer e tantas vezes a detestar em silêncio..
A ele e a tudo o que o requer..

A mesa permite o sol quente no rosto..
há grãos de terra a rodearem-me o momento.. e não existe outro universo que me traga uma distracção do silêncio das folhas embaladas pelo vento.

Nunca soube onde me levaria o olhar..
Prefiro perdê-lo para lá das ondas fundas de um mar infinito.
E também queria ser grande sem deixar de ser pequena.. rodear-me eternamente do perfume que enchia o ar de sabão e levantar sorrisos sem medo!...

Um dia verei um pirilampo a voar na minha frente. Hei-de sentir-me aliviada por vê-lo e sentir felicidade maior do que a beleza de o olhar..
Procurarei a sua luz incandescente, como procurei o olhar da minha mãe no primeiro dia da escola, enrolada e tão pequena nas suas saias de gente crescida!

..Volto aos grãos de terra como a folha que voou volta ao chão do baile com o vento.

Sinto-me sentada no mesmo sítio há tantas luas que já me parecem séculos.. várias vidas..?
E no entanto, todos os que me vão rodeando tocam-me o corpo como pedindo em silêncio que não os abandone.. que olhe para eles, que lhes dê atenção.
Sei-o pela anatomia e pelo gesto com que me comunicam.
Entretenho-me a decifrar os seus segredos.

Mas este corpo, que aprendo a esquecer e a detestar por vezes, em silêncio, a ele e a tudo o que o requereu .. negligências, prostituições, imposições e abusos .. este corpo acompanhar-me-á os dias para uma Terra do Nunca onde chorarei de angústias.

Que veria eu se pudesse sair para fora de mim e viajasse intimamente pelo mundo?

Que veria eu na verdadeira luz forte e incandescente dos sonhos?


de silêncio

"Amo devagar todos os que são tristes, com cinco dedos de cada lado.
Os que enlouquecem e estão sentados.. com a vida a arder atrás, eternamente.

Nunca os chamei, mas eles voltam-se profundamente dentro do fogo.
Só nos olhamos normalmente..

Temos um talento.. doloroso.. obscuro!
E sem sabermos. Sem querermos, construímos um lugar de silêncio..
E de paixão"


AMor-Te

...É com pedaços... é belo.
Tudo fica vazio e cortado aos bocados.
É estranho ser cortado e não sentir...
Ver-me mas não me ver...

Depois acordou e não se lembra do que se passou.
Lembra-se de eu o ter cortado todo com a minha lingua, afiada e dourada...
Era como se eu, que não era eu, fosse uma serra oleada, que não cortava... só sorria.

Acho que lhe deram algo para beber... mas não se lembra.

Ele encontrou-me no outro dia, mas não lhe falei palavras. Só lhe devolvi o coração, um músculo vermelho e frio que me desiludiu... era frio.

Fugiu comigo aos ombros, tinha a expressão da amargura no rosto como se dissesse que os demónios de branco magoam.

Ele não fugia...

Disse-lhe sem palavras que estava cansada e pedi-lhe que me carregasse aos ombros... ou de rastos pela floresta...

... só queria sonhar.
Queria também alguma coisa para beber.

É que eu nunca tinha fugido para a floresta...
Fujo sempre para o meio das estradas, ou para as muralhas e corro depressa até que ele me consiga parar no meio do caminho.

Como demónio amo-o... e como anjo magoo-o...

Mas eu nunca o magoei.
Sou o demonio dele com o meu anjo de asas partidas encolhido dentro de mim... deste corpo pálido e frágil...

Fugi. Fujo sempre.

Fico á espera que ele me encontre e que chore, grite e uive por eu estar cansada e não querer voltar.

Depois peço-lhe com os olhos para me levar.

Não é nada de vingança... Não sou assim.
Ele nunca me fez mal. Não podia vingar-me dele.

Ele era eu e eu era ele.

No outro dia encontrou-me e eu não lhe disse nada... mas ele viu que eu estava a chorar.
Nunca ninguém quis acreditar-nos juntos e felizes. Ou muito poucos então.
É que ninguém entende a histório de nós os dois.
Nem ele!

É que nós não somos dois, somos só um.
Ele e eu e mais ninguém.
Estamos sózinhos entendem?
Ninguém nos conhece. Ninguém nos fala.

É como a ti!
Ninguém te conhece ou fala realmente, não é?

Ele acha que um dia vai acordar, ele sabe que vai, e que eu também vou estar ali ao lado dele, a chorar...
Estou sempre a chorar.
Nasci assim.

Não, eu não quero que ele conte nunca o nosso amor!
Não...


Só o chorar...


Trypes - Giorti

"Mis palabras son un rezo suave
posan en tu ventana cerrada
y si las dejabas abrirían una fisura
de tu celdita hasta el infinito

Pero tu callas y lloras como un condenado
sobre las cenizas que cubren el paraíso
sobre las cenizas

Al fuego todo que te quema, que consume tu alma
Allí fuera los caminos respiran sedientos, abiertos
Es el amor un viaje de fiesta a fiesta
Vive con migo en el viento, el fuego, la lluvia
nos esperan días vacíos, cielos rajados
Es el amor un viaje de herida a herida

Mis palabras son un deseo desesperado
luz apagado en el cuarto desgarbado
Y si las dejabas quemarían el silencio
y destruirían tu queja oculta

Pero tu callas y lloras como un condenado
sobra las cenizas que cubren el paraíso
sobre las cenizas

Al fuego todo que te quema, que consume tu alma
Allí fuera los caminos respiran sedientos, abiertos
Es el amor un viaje de fiesta a fiesta
Vive con migo en el viento, el fuego la lluvia
nos esperan días vacíos, cielos rajados
Es el amor un viaje de herida a herida

Al fuego todo que te quema, que consume tu alma
Allí fuera los caminos respiran sedientos, abiertos
Es el amor un viaje de fiesta a fiesta
Vive con migo en el viento, el fuego la lluvia
nos esperan días vacíos, cielos rajados
Es el amor un viaje de herida a herida

Es el amor un viaje de fiesta a fiesta
Es el amor un viaje de herida a herida
Es el amor un viaje de fiesta a fiesta
Es el amor un viaje de herida a herida"