19/02/2009

De tudo o que me é sensível, procuro o que me é mais próximo.
Sentada, neste jardim, sabendo o sol a desaparecer aos poucos na linha que separa do céu toda esta terra..

É o meu corpo de menina crescida, ainda, e abraçado à roupa que a Primavera obriga.
O corpo que aprendo a esquecer e tantas vezes a detestar em silêncio..
A ele e a tudo o que o requer..

A mesa permite o sol quente no rosto..
há grãos de terra a rodearem-me o momento.. e não existe outro universo que me traga uma distracção do silêncio das folhas embaladas pelo vento.

Nunca soube onde me levaria o olhar..
Prefiro perdê-lo para lá das ondas fundas de um mar infinito.
E também queria ser grande sem deixar de ser pequena.. rodear-me eternamente do perfume que enchia o ar de sabão e levantar sorrisos sem medo!...

Um dia verei um pirilampo a voar na minha frente. Hei-de sentir-me aliviada por vê-lo e sentir felicidade maior do que a beleza de o olhar..
Procurarei a sua luz incandescente, como procurei o olhar da minha mãe no primeiro dia da escola, enrolada e tão pequena nas suas saias de gente crescida!

..Volto aos grãos de terra como a folha que voou volta ao chão do baile com o vento.

Sinto-me sentada no mesmo sítio há tantas luas que já me parecem séculos.. várias vidas..?
E no entanto, todos os que me vão rodeando tocam-me o corpo como pedindo em silêncio que não os abandone.. que olhe para eles, que lhes dê atenção.
Sei-o pela anatomia e pelo gesto com que me comunicam.
Entretenho-me a decifrar os seus segredos.

Mas este corpo, que aprendo a esquecer e a detestar por vezes, em silêncio, a ele e a tudo o que o requereu .. negligências, prostituições, imposições e abusos .. este corpo acompanhar-me-á os dias para uma Terra do Nunca onde chorarei de angústias.

Que veria eu se pudesse sair para fora de mim e viajasse intimamente pelo mundo?

Que veria eu na verdadeira luz forte e incandescente dos sonhos?


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