19/02/2009

AMor-Te

...É com pedaços... é belo.
Tudo fica vazio e cortado aos bocados.
É estranho ser cortado e não sentir...
Ver-me mas não me ver...

Depois acordou e não se lembra do que se passou.
Lembra-se de eu o ter cortado todo com a minha lingua, afiada e dourada...
Era como se eu, que não era eu, fosse uma serra oleada, que não cortava... só sorria.

Acho que lhe deram algo para beber... mas não se lembra.

Ele encontrou-me no outro dia, mas não lhe falei palavras. Só lhe devolvi o coração, um músculo vermelho e frio que me desiludiu... era frio.

Fugiu comigo aos ombros, tinha a expressão da amargura no rosto como se dissesse que os demónios de branco magoam.

Ele não fugia...

Disse-lhe sem palavras que estava cansada e pedi-lhe que me carregasse aos ombros... ou de rastos pela floresta...

... só queria sonhar.
Queria também alguma coisa para beber.

É que eu nunca tinha fugido para a floresta...
Fujo sempre para o meio das estradas, ou para as muralhas e corro depressa até que ele me consiga parar no meio do caminho.

Como demónio amo-o... e como anjo magoo-o...

Mas eu nunca o magoei.
Sou o demonio dele com o meu anjo de asas partidas encolhido dentro de mim... deste corpo pálido e frágil...

Fugi. Fujo sempre.

Fico á espera que ele me encontre e que chore, grite e uive por eu estar cansada e não querer voltar.

Depois peço-lhe com os olhos para me levar.

Não é nada de vingança... Não sou assim.
Ele nunca me fez mal. Não podia vingar-me dele.

Ele era eu e eu era ele.

No outro dia encontrou-me e eu não lhe disse nada... mas ele viu que eu estava a chorar.
Nunca ninguém quis acreditar-nos juntos e felizes. Ou muito poucos então.
É que ninguém entende a histório de nós os dois.
Nem ele!

É que nós não somos dois, somos só um.
Ele e eu e mais ninguém.
Estamos sózinhos entendem?
Ninguém nos conhece. Ninguém nos fala.

É como a ti!
Ninguém te conhece ou fala realmente, não é?

Ele acha que um dia vai acordar, ele sabe que vai, e que eu também vou estar ali ao lado dele, a chorar...
Estou sempre a chorar.
Nasci assim.

Não, eu não quero que ele conte nunca o nosso amor!
Não...


Só o chorar...


1 comentário:

Anónimo disse...

Não recordo ter alguma vez chorado por ouvir palavras escritas...até hoje. parabéns. "um beijo para ti e para mim também, obrigado"